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com Lin Cominatto
CLOSTRIDIUM BOTULINUM/BOTULISMO
DESCRIÇÃO DA DOENÇA - É uma doença resultante da ação de uma potente toxina produzida por uma bactéria denominada Clostridium botulinum (C. botulinum), habitualmente adquirida pela ingestão de alimentos contaminados (embutidos e conservas em latas e vidros), de ocorrência súbita, caracterizada por manifestações neurológicas seletivas, de evolução dramática e elevada letalidade. Pode iniciar-se com vômitos e diarréia (mais comum a constipação), debilidade, vertigem, sobrevindo logo em seguida, alterações da visão (visão turva, dupla, fotofobia), flacidez de pálpebras, modificações da voz (rouquidão, voz cochichada, afonia, ou fonação lenta), distúrbios da deglutição, flacidez muscular generalizada [acentuando-se na face, pescoço (cabeça pendente) e membros], dificuldade de movimentos, agitação psicomotora e outras alterações relacionadas com os nervos cranianos, podendo provocar dificuldades respiratórias, cardiovasculares, levando à morte por parada cárdio-respiratória.
AGENTE ETIOLÓGICO E TOXINA - o Clostridium botulinum, é um bacilo Gram positivo, que se desenvolve em meio com baixa concentração de oxigênio (anaeróbio), produtor de esporos, encontrado com freqüência no solo, em legumes, verduras, frutas, fezes humanas e excrementos animais. Estes anaeróbios para desenvolverem a toxina necessitam de pH básico ou próximo do neutro. São descritos 7 tipos de Clostridium botulinum (de A a G) os quais se distinguem pelas características antigênicas das neurotoxinas que produzem. Os tipos A, B, E, e o F (este último, mais raro), são os responsáveis pela maioria dos casos humanos. Os tipos C e D são causas da doença do gado e outros animais. O tipo E, em seres humanos, está associado ao consumo de pescados e frutos do mar. Alguns casos do tipo F foram atribuídos ao C. baratii ou C. butyricum.
A toxina é uma exotoxina ativa (mais que a tetânica), de ação neurotrópica (ação no sistema nervoso), e a única que tem a característica de ser letal por ingestão, comportando-se como um verdadeiro veneno biológico. É letal na dose de 1/100 a 1/120 ng. Ao contrário do esporo, a toxina é termolábil, sendo destruída à temperatura de 65 a 80º C por 30 minutos ou à 100 º C por 5 minutos.
MODO DE TRANSMISSÃO - São descritos os seguintes modos de transmissão para o Botulismo:
1) por ingestão de alimentos - que é a forma mais comum e responsável por surtos esporádicos, através do consumo de alimentos insuficientemente esterilizados, e consumidos sem cocção prévia, que contém a toxina. É conhecido também o botulismo em lactentes (associação com a Síndrome de Morte Súbita do Recém-Nascido) e em crianças mais jovens, desenvolvido à partir da ingestão de esporos nos alimentos, que no intestino, sem microbiota de proteção, desenvolvem e liberam a toxina;
2) por ferimentos - a ferida contaminada pelo C. botulinum é lugar ideal para o desenvolvimento da toxina com produção do quadro clínico e patogenia idênticos ao do quadro por intoxicação oral. Nos EEUU, são freqüentes os casos por ferimentos contaminados e em usuários de drogas injetáveis;3) por vias aéreas - através da inalação da toxina, que acaba por atingir a corrente sangüínea, e daí alcança o sistema nervoso central e demais órgãos, exercendo a sua ação patogênica com o mesmo quadro já descrito;
4) infecção por via conjuntival (aerossol ou líquido) - a toxina alcança imediatamente a corrente sangüínea, desenvolvendo o quadro típico.
PERÍODO DE INCUBAÇÃO - os sintomas aparecem entre 2 horas a cerca de 5 dias, em período médio de 12 a 36 horas, dependendo da quantidade de toxina ingerida. É muito raro o aparecimento vários dias após a ingestão do alimento contaminado. Quanto mais toxina ingerida, mais curto o tempo entre a ingestão e aparecimento da doença. Quanto menor o tempo de aparecimento da doença, maior a gravidade e a letalidade da doença.
CONDUTA MÉDICA E DIAGNÓSTICO DA DOENÇA HUMANA - o botulismo é diagnosticado através dos sintomas e sinais, pela detecção e tipo da toxina no sangue do paciente, e pelos testes complementares nos alimentos suspeitos.
TRATAMENTO - o tratamento deverá ser feito em unidade de terapia intensiva (UTI), com dois enfoques importantes: o tratamento específico e o geral, sendo que da sua precocidade dependerá o êxito terapêutico.
A. Tratamento específico - 1) soroterapia específica feita com soro antibotulínico (heterólogo) específico para o tipo imunológico ou polivalente (anti-A, B, E e F). A antitoxina atua contra a toxina circulante e não contra a que se fixou no sistema nervoso; portanto sua eficácia dependerá da precocidade do diagnóstico (ver Manual do Botulismo). Nos casos tardios a antitoxina poderá não ser mais eficaz. 2) anatoxinoterapia - alguns autores preconizam o uso de anatoxina botulínica simultaneamente com a antitoxina.
O soro deverá ser solicitado à Central de Vigilância Epidemiológica/Centro de Referência do Botulismo (0800 - 55-5466), que passará todas as informações para essa obtenção, a partir da discussão detalhada do (s) caso (s) e solicitação por escrito. O soro antibotulínico será fornecido pelo Instituto Butantan, e pode atender as solicitações em todo o país.
COMPLICAÇÕES - o botulismo é uma doença com alta letalidade que exige a internação em unidades de terapia intensiva, por tempo prolongado, dependendo da gravidade do quadro e da precocidade do atendimento médico em relação ao início dos sintomas. A internação prolongada, a baixa imunidade do paciente decorrente da doença, dos tratamentos realizados e dos procedimentos invasivos deixam-no mais suscetível às infecções hospitalares, além das possíveis complicações decorrentes de paradas cárdio-respiratórias que possam ocorrer. Após a alta hospitalar o doente necessitará de acompanhamento médico e fisioterápico para garantir ou reaprender funções básicas como respirar, andar, falar, escrever, etc.
FREQÜÊNCIA DA DOENÇA - A incidência da doença é baixa, com alta letalidade se não tratada adequada e precocemente. São conhecidos casos esporádicos ou em grupos de pessoas, em todos os países do mundo, na maioria das vezes relacionados à ingestão de alimento, preparado ou conservado em condições que permitam a produção da toxina pelo bacilo. Alguns casos de botulismo podem estar subnotificados devido às dificuldades disgnósticas.
Bibliografia consultada e para saber mais sobre a doença
ANVS/MS. Resoluções ANVS/MS no. 362 e 363, de 29.07.99 (D. O. U. 02.08.99) [ http://www.in.gov.br]
AOAC. Bacteriological Analytical Manual, AOAC, 1992.
APHA. Compendium of Methods for the Microbiological Examination of Foods, APHA, 1992
CDC/USA. Botulismo in the United States, 1899-1996 - Handbook for Epidemiologists, Clinicians and Laboratory Workers, Atlanta, 1998.
Cecchini, E; Ayala, S. E. G.; Coscina Neto, A. L.. & Ferrareto, A. M. C. Botulismo In: Veronesi, R. & Focaccia R. Tratado de Infectologia. Ed. Atheneu, Vol. 1, São Paulo, 1996, p. 565-574.
OPAS/OMS. El control de las Enfermedades Transmisibles en el hombre. Editor Benenson, ª S., 15 º Edição, Washington D. C., E. U. A. 1992.
CVE/SES-SP. Relatório da Investigação Epidemiológica do Caso de Botulismo, março de 1999.
CVS/SES-SP. Relatório da Vigilância Sanitária do Caso de Botulismo, março de 1999.
US FDA/CFSAN. Clostridium botulinum. BAD BUG BOOK. http://www.fda.gov (procurar em Food e em seguida em Bad Bug Book)






Equipe Técnica
Maria Bernadete de P. Eduardo -CVE/
SES-SP (Coord. e Redação Geral)
Maria Lúcia Rocha de Mello – CVE/SES-SP (Revisão geral)
Elizabeth M. Katsuya –
CVE/SES-SP
Ivany Rodrigues de Moraes -CVS/SES-SP
Neus Pascuet – IAL/SES-SP
Elza S. Badolato – IAL/SES-SP
Myoko Jakabi – IAL/SES-SP
Célia Elisa Guarnieri - IIER/SES-SP